sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Uma joelhada no saco

De vez em quando, me arrisco a falar sobre música. Acho que falo com alguma propriedade porque, com o tanto de CDs e LPs que tenho em casa, devo ter aprendido alguma coisa.
Tempos atrás, fuçando na internet, cheguei ao Joelho de Porco. Minha infância me remeteu a um gordão pintado, que aparecia como principal vocalista, numa música que começava com assim: "Atchim, atchim!" Era "Rapé", que abria um disco que o JdP lançara pela Som Livre. Era apresentado como a primeira banda "punk" do Brasil.
Jamais tive esse disco, mas logo descobri que algumas daquelas músicas do JdP, que eu tinha ouvido na falecida Eldo Pop, não pertenciam a esse LP. Nem o gordão era o mesmo: o pintado, era um argentino, o Billy Bond, que jamais foi grande coisa cantando. Eu queria ouvir o outro, que só conheceria num festival da Globo, nos anos 80, voz principal na música "A última voz do Brasil". Esse cantava pra cacete.
Próspero Albanese. O nome, quando ouvi pela primeira vez, me fez pensar: quem se chamaria Próspero Albanese? Com o tempo, fui vendo que devia ser filho de uma dessas tradicionais famílias paulistanas, de origem italiana. Era, aliás, o disco de Próspero que eu queria ouvir.
E o disco chama-se "São Paulo 1554-Hoje". Espetacular. Baixei na internet (lamento confessar, mas se existe uma edição oficial, me avisem para comprá-la). Tem várias faixas que eu acho formidáveis: "Cruzei meus braços... fui um palhaço", "Aeroporto de Congonhas", "São Paulo by day", "A lâmpada de Edison" e mais algumas. Rocks bem pesados, com orquestrações à Deep Purple, com toques ainda de progressivos como Genesis ou Jethro Tull. A banda gira em torno de Albanese, que, não sei dizer (não tenho a ficha técnica), acho que acumula o cargo de baterista nessa gravação. Alguns vocais são de Tico Terpins, que entrava mais como força criativa do que musical.
A capa é ótima, do sumido artista plástico Juarez Machado. Preto e branco com aquele traço inconfundível. Já vi a contracapa, que traz ficha técnica e o escambau, mas não sei dizer quais são os músicos que fazem parte da empreitada. É uma pena que Charles Gavin não tenha trazido de volta esse LPs à luz do sol. Ou se tentou trazer e não conseguiu, é mais triste ainda.
Digo isso porque foi trilha sonora da minha pré-adolescência, quando, antes de dormir, colocava um radinho Sharp de pilha perto do travesseiro e, plugado com um "egoísta" (aquele monofone de ouvido), sintonizava na Eldo Pop. Entre coisas que jamais saberei o que são, pois a rádio era somente música, sem locutor - impressionante como deixou viúvos e viúvas ainda hoje -, e outras que já descobri, ouvi aqueles caras cantando em português, com um inconfundível sotaque paulistano.
"No aeroporrrrrto de Congonhas/ Passa todos os domingosssss/ Só prrrra ver avião descendo/ Só prrrrrra ver avião subiiiiindo...", e o pau quebrava num instrumental ótimo, com uma pegava ganchuda, que sempre me levou a pensar por que o Brasil não teve mais bandas de rock pesado nos anos 70. Vão dizer que os amplificadores Tremendão, as baterias Pinguim, os pratos Ziltanan e as guitarras Gianinni e Phelpas não ajudavam. É, pode ser.
Quem tiver a chance de ouvir "São Paulo 1554-Hoje", ouvirá um grande disco de rock. De rock pesado, hardão (com alguns desvios, é verdade) e que ainda hoje merece ser escutado. Não ficou datado, como muita gente pode pensar. É a expressão mais clara, para mim, do rock paulistano, assim como Adoniram Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano Matias foram os ícones do samba da terra dos edifícios do Banespa, Ester e Copan. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário