sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A volta dos mortos vivos

Demóstenes Torres (DEM-GO) vai pedir o impeachment do governador do DF, Agnelo Queiroz. Se o senador um dia souber da existência desse blog e se der ao trabalho de lê-lo, verá aqui meu conselho: desista, não vai conseguir. E pelas razões que passo a enumerar agora.
A primeira delas está relacionada à imprensa local. Demóstenes verá com muita facilidade que os jornais, estranhamente, não dão coisa alguma sobre o embrulho no qual Agnelo está atado. E quando dão é de forma distorcida, jogando noutra direção as raízes do escândalo. Uma dessas publicações disse que a troca que o governador fez, que movimentou a cúpula da polícia e cujo resultado foi uma razzia de nomes, foi uma questão administrativa. Qualquer pessoa que juntar dois mais dois há de perguntar: ora, por que não fez antes? Se havia politização num lugar-chave, como a Polícia Civil, por que deixou chegar a esse ponto? E por que a politizou?
São perguntas que nem Agnelo, nem sua nova cúpula de segurança, vão responder com firmeza. Será um festival de tergiversação, com as justificativas mais estranhas. Mesmo porque a nova turma da polícia é toda ligada ao ex-governador Joaquim Roriz. Trata-se de um pessoal que conhece completamente os caminhos do governo e a forma de controlá-lo.
Toda essa complacência da imprensa local é muito bem remunerada. Nenhum desses veículos têm coragem ou independência. A administração da dificuldade de Agnelo passará, em breve, por uma mesa de negociações. No começo deste ano, o governador jogou lá embaixo a "taxa de simpatia" aos veículos, o que os deixou revoltados. Está chegando a hora de renegociar esses patamares, sob pena de alguns recados serem passados pela imprensa no formato de incômodas reportagens. Às vésperas de completar um ano, é tempo de reajuste. Que Agnelo vai pagar sem pensar duas vezes.
Mas existe um segundo ponto, que é o decisivo: a Câmara Legislativa. Agnelo tem, sim, 22 dos 24 distritais, mas somente enquanto puder atendê-los. O que se verá, de agora em diante, será um festival de apararelhamento da máquina do GDF. Todas aquelas boas intenções, que seriam sérias se fossem verdadeiras, de reduzir o quadro do governo e qualificá-lo, vai ficar para trás - se é que já não ficou há algum tempo, pois ninguém obtem maioria folgada se não pagar bem direitinho a base de apoio.
Agnelo começou o governo batendo de frente com a Câmara Legislativa. Houve uma revolta de distritais, que de sincera não tinha nada. Queriam vender dificuldade para obter facilidade. Há, inclusive, bons nomes na Casa, mas que não têm coragem de se tornar o chamado ponto fora da curva. Seguem a manada, ainda que isso não lhes renda muita coisa, já que não pleiteiam tantos cargos quanto outros, que têm maior avidez.
Mas tem a turma que apóia qualquer governo, que, é evidente, vai querer ser bem remunerada para dar apoio a Agnelo e impedir que um processo de impeachment viceje. Como as duas deputadas não têm tanta envergadura assim para criticar o governo - Liliane Roriz tem um sobrenome que não a ajuda; Celina Leão, além de ser ligada aos Roriz, foi chefe de gabinete na notória Jaqueline, e há pouco tempo teve de dar explicações sobre isso -, os demais não encontrarão barreiras para cobranças. As duas, aliás, sequer serão ouvidas pelos jornais, que não querem coisas incômodas vindas delas.
Demóstenes tem somente uma chance: assim como aconteceu com José Roberto Arruda, que a imprensa de fora, que não tem qualquer compromisso com Agnelo, comece a denunciá-lo com provas contundentes. A cada dia terá de surgir uma nova informação de que o suposto reformador não é uma figura impulta, tampouco ilibada. Somente esse caminho será capaz de levantar o fio dessa meada. E aí há uma chance de o processo de impeachment avançar, já que aos distritais não interessa o afogamento político, que lhes seria imposto pelo abraço desesperado de Agnelo.
No processo de fritura de Orlando Silva, no Ministério do Esporte, se podia prever que em algum momento o governador seria trazido para dentro da roda. As denúncias existiam, porém não se sabia até então qual a consistência delas. Ano passado, na campanha, não colaram, mas agora têm tudo para fazer um imenso estrago exatamente porque existem provas.
A Veja, quando entrou nesse circuito, não o fez somente por desassombro. Tampouco Orlando aceitou deixar a pasta levando toda a culpa pelas barbaridades no Ministério.

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