segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Guerra de guerrilha

Estar dentro de um órgão público é um exercício político muito interessante. Sobretudo quando começam a surgir na imprensa "recados", "notas", todas visivelmente plantadas e com a única intenção de desestabilizar o comandante desse mesmo órgão público. A má-fé de alguns veículos, seja porque se comprazem com o jornalismo especulativo, seja porque assumiram uma postura anti-governo pautada na mais absoluta cegueira, apenas ressalta o contorno de uma imprensa de segunda categoria. É aquela história: os caras ouvem o galo cantar não sabem onde, compram a primeira versão, fazem a fofoca e acham que isso é jornalismo, reportagem ou coisa que o valha.
Não, não mudei de posição. Da mesma forma que critico esse tipo de imprensa, ataco a imobilidade do órgão público, que, mastodôntico, perde tempo precioso deixando que a versão errada se consolide e vire verdade. Arrancar uma resposta, assertiva, rápida, direta, é um jogo de cautelas e medos difícil de entender. A coisa somente anda um pouquinho mais rápido quando tem cheiro de crise ou de articulação, que envolve mais de um jornal, que se deixam saborosamente aprisionar por supostas fontes. Aí o órgão público até se movimenta, mas com a agilidade de uma baleia - fora d'água!
Toda essa peroração aqui é por causa da mais rasteira política partidária, ou melhor, futrica partidária. A secretária chegou ao órgão público com ares de que seria a futura titular, num momento em que a titular jogava mal, chutando bolas para fora e deixando possibilidades de críticas por todos os lados. Também, pudera: o que foi fazer no Rio de Janeiro com dinheiro público e sem agenda clara? Pediu...
A secretária é ambiciosa e, como toda suposta gestora pública, tenha um palavrório impressionante, que dificilmente se traduz em ação concreta. Fala com aqueles jargões sociológicos e psicológicos típicos de quem leu direitinho as inúmeras teorias da comunicação, que têm muito de teoria e pouco de comunicação. É tida como intelectual e consegue mascarar bem a ignorância com uma militância partidária intensa, sem contar uma conexão com ONGs e outros grupos sociais tão caros a esse tipo de figura. É uma "agitadora", para usar um jargão carioca. Frequenta favelas (perdão, comunidades), dá a maior força para grupos que se formam para, evidentemente, levarem aquela voz para outras seções da sociedade e da opinião pública. Ou seja, a secretária é "gente finíssima", "pedra 90".
Já a titular do órgão público é uma figura frágil, de tradicional família intelectual. Não é a de maior destaque, que fica para o pai, o irmão mais velho e uma irmã que chegou a ter carreira internacional. Caçulinha, é boa menina desde sempre, profissional de dotes limitados na lida que abraçou. Mas, por conta das conexões políticas, chegou a um posto que desde muito vem sendo cobiçado por uma deputada e outros grupos político-partidários.
A secretária, por causa da ambição e das conexões na legenda à qual pertence, começa a enfrentar abertamente a titular do cargo. Claro, não está sozinha na aventura de criar saias-justas e factóides. Quanto mais, melhor, pois expõe a fraqueza da titular e a pouquíssima velocidade da máquina do orgão público em responder às ameaças que surgem pela imprensa. Nessa briga de quem pode mais, a secretária passa à condição de ex. E empreende uma verdadeira guerra de guerrilha por meio de jornalistas amigos, alguns mau intencionados, outro apenas ingênuos. Só que ambos servem de amplificador para uma guerra intestina.
Dentro do órgão público, a ex-secretária deixou um passivo de maus relacionamentos e trabalho de eficiência duvidosa. Mas, como transita bem no partido, expõe uma mal escrita carta aberta em perfil num desses instrumentos de rede social, que os cupinchas fazem questão de fazer circular. Utilizam para isso uma ferramenta formidável, o Tuíter, que é uma espécie de rádio de todo mundo: a pessoa fala a bobagem que quiser, por sua conta e risco, e replica aquilo que mais lhe convém, até mesmo mentiras. Exceto os verdadeiros veículos de imprensa, os demais não têm qualquer responsabilidade ou compromisso com a informação correta.
Eis aí um caldo interessante. A ex-secretária ambiciosa, turbinada por um grupo político, assume um estilo de bater e correr pelas redes sociais numa titular de órgão público conhecida por uma doçura que se mistura a uma certa ingenuidade política. De um lado, a estrutura vietcongue contra o gigante lento, obeso, que além de não saber criar agendas positivas, também não sabe agir rápido na contenção de crises fabricadas. O desgaste causado por essa estratégia, com os canais de que dispõe a ex-secretária, lhe são amplamente favoráveis. Pode não se beneficiar diretamente deles, mas consegue solapar a titular do órgão público, consolidando-lhe a má imagem. Não ganha, mas não deixa a outra ganhar.
Um empate com sabor de vitória.

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