quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sons para se... (enfim, cês já sabem)

Não tenho tido muito saco para ficar comentando política. Admito que está sem grandes assuntos e, aí, não me sinto muito à vontade de ficar dando pitaco em coisas que me demandariam profundidade para trazer um ângulo diferente. Assim sendo, para esfriar a cabeça e não encher a de vocês, vamos falar de rock! E de dois discos diametralmente opostos, embora em sequência: Never Say Die e Heaven and Hell, ambos do Black Sabbath.
Começando pelo segundo, vou relatar um episódio. Estava eu uma tarde na casa de meu compadre Velório, ouvindo o programa de rock que tinha sábado à tarde na Rádio 98, quando entrou a guitarra: pesadaça, bem na cara.
"Carajo, que porra é essa Velório?"
Continuamos ouvindo. Ele para mim:
"Parece o Ronnie James Dio cantando..." Confesso que, nessa época, conhecia pouco o Rainbow e não estava familiarizado com a voz do grande Dio. No final, o locutor anunciou: "Black Sabbath, Lonely is the world".
Silêncio. "Carajo" em únissono.
Seguiram-se dias de fome no São Vicente de Paulo para, ao final de uma semana, correr na Center Sound, do bravo Zé, perguntar sobre o disco que tinha essa música. Era o Heaven and Hell, que estava acabando de sair. Tive esse vinil até pouco tempo atrás e não sei se o passei para meu irmão ou para meu compadre Antônio Vicente. Mas o bicho ficou fino de tanto ouvir e com a contracapa branca, belíssima, encardida de tanto levá-lo para cima e para baixo.
Começa com um porradão, Neon Knights. Segue com Children of the sea, Lady Evil e fecha o lado um com Heaven and Hell. O lado dois não perde a pressão e termina com Lonely... Espetacular.
Dio, claro, estava cantando o fino. Tony Iommi e Geezer Butler inspiradíssimos e acho que a nota destoante é o simpático Bill Ward. Sempre o achei limitado, apesar de todo o esforço;  as mesmas viradas, levadas, pratadas etc. Para quem começou ouvindo John Bonham e aprendeu a tocar bateria por causa do Ian Paice, Bill está longe de entrar para a lista dos heróis. Mas, concordemos: Bill não deixa a peteca cair. E acho-o uma figura simpatissíssima. Depois, falo de um disco solo que fez tempos atrás e que é excelente.
O legal de H&H é a sonoridade totalmente diferente dos discos anteriores do Sabbath, que seguiam certo padrão. Claro que é por causa de Dio: a voz poderosa modulou-se de outra maneira aos riffs de Tonny e Geezer, fazendo com que a banda se tornasse mais pesada e, para mim, menos sombria. Tinha passado a época dos morcegos, bruxas, diabinhos, cemitérios e coisas do tipo. Era hora de agregar outro fabulário, com guerreiros, cenários medievais, batalhas épicas, que Dio levou para a carreira-solo.
Mas esse som diferente era em parte, também, pela produção de Martin Birch, que passou a ser o cérebro por trás do Iron Maiden. São bem características, têm uma sonoridade própria, adquirida nos tempos do Rainbow e potencializada. Não foi por acaso que, com a saída de Dio, Martin vendeu sua capacidade para outros músicos.
O Sabbath, enfim, tinha assumido nova roupagem, tão fabulosa quanto a anterior. O chato é que isso não foi mantido a partir da saída de Dio, embora os discos que vieram fossem sempre corretos, para dizer o mínimo.
Mas vamos dar um passo atrás e falar de Never Say Die. Disco sensacional e acho que é uma despedida de Ozzy Osbourne em grande estilo. A faixa-título é fabulosa, pena que pouco executada. O restante do trabalho segue aquela linha evolutiva assumida pelo Sabbath desde Sabotage. Techincal Ecstasy dá uma leve decaída, mas sobe novamente em Never. Eu estava lá na turnê de 10 anos do Sabatth, cuja abertura foi de ninguém menos que o Van Halen - e que a galera no Kilburn State Gaumont deu a mínima.
De início, confesso que não entendi Never direito. Lembro que eu tinha um colega, apenas colega, que fazia o tipo chato e que, por gostar somente dos discos do Sabbath até o Sabbath Bloody Sabbath, ficava se amarrando para emprestar o Never. Quando emprestou, desceu quadrado, não sei se por causa do dono babaca ou pelo disco mesmo. Fato é que só fui aprender a apreciá-lo muito tempo depois.
Dizem que Ozzy o detesta, mas acho detestar um verbo forte demais. Talvez não esteja entre os prediletos pelas más recordações - foi sacado da banda; foi substituído por Dave Walker; voltou mas o clima entre ele e Tony já estava ruim; estava atolado na birita e na cocaína -, mas desprezível, definitivamente, não é.
Se alguém perguntar minha ordem de preferência dos discos do Sabbath com Ozzy, é essa: 1) Sabbath bloody/Volume 4; 2) Sabotage; 3) Never Say Die; 4) Techical Ecstasy; 5) Paranoid/Master of Reality; e 6) Black Sabbath. Vocês podem discordar à vontade, porque gosto não se discute. Mas tenho boas razões para que a lista seja esta, com dois discos dividindo o 1º e o 5º lugar.
Em Never, o Sabbath ousa tanto quanto em Sabotage, usando naipe de metais, gaita, Bill Ward nos vocais, sintetizadores de Don Airey. Claro que assusta: espera-se sempre que elementos como esses de alguma forma não se ajustem ao todo. Mas fica espetacular, sobretudo porque Rick Wakeman (o famoso Spock Wall) estava ajudando a banda nos arranjos. Em Sabotage, para quem não se lembra, havia coro, percussão sinfônica e outras coisas pouco comuns.
O que eu gostava no Sabbath era essa evolução, essa mistura com outros elementos, mas sem perder a característica. Considero Tony Iommi um dos mais brilhantes guitarristas e arranjadores do rock, que embora não tivesse a técnica de um Jimmy Page, era mais arejado do que um Ritchie Blackmore - para falarmos de dois contemporâneos. Não é por acaso que está até hoje aí, enquanto os outros dois estão semi-aposentados.
Never, para mim, é um dos grande discos de metal. Até o Bill Ward está bem, embora dentro das limitações que já relatei. É o tipo do disco que é preciso gostar muito do Sabbath para entendê-lo.

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