sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sons para se ouvir no carro III

Algumas bandas de rock, quando um dos seus integrantes sai (ou morre), acabam. Com o Led Zeppelin foi assim, com o The Doors, com o Queen, até mesmo com o Deep Purple e com o Black Sabbath que, a despeito de terem prosseguido sem dois integrantes fundamentais, se tornaram algo totalmente diferente daquilo que eram. Evolução? Às vezes sim, às vezes não. Na maioria das vezes, puro oportunismo. Uma marca de sucesso não se pode desperdiçar.
Esse preâmbulo todo se faz por conta do CD que ouço neste instante no carro, do Thin Lizzy. Mas não é "o" Thin Lizzy e sim um arremedo com alguns integrantes do Thin Lizzy. "One night only" é o nome do disco e quisera fosse verdade. Seria um único show, mas a história deu-se de forma bem diferente.
O Thin Lizzy era Phil Lynnott, baixista-cantor-compositor-líder-mentor espiritual. Ele morreu, a banda acabou. Simples. Simples? Não no show bussiness. Três ex-integrantes do Lizzy devem ter acertado um percentual da bilheteria e da vendagem do CD ao dono da marca (talvez a mãe de Lynnott, uma das herdeiras ou a herdeira legal do trabalho intelectual do filho), montaram uma boa banda e foram à luta. O resultado é satisfatório, mas desonesto.
Os tais três são John  Sykes, Scott Gorham (guitarras) e Darren Wharton (teclados). Exceto por Gorham, que ficou mais de uma década no Lizzy, os outros dois eram recém-chegados. Oficialmente, fizeram apenas dois discos oficiais do Lizzy (as edições da BBC e outras não contam aqui), "Thunder and lightning" e "Live-life". Gorham, não. Participou não apenas desses dois, mas de outros nove que vieram antes. Mesmo assim, isso não lhe dava direito sobre a marca; somente a propriedade intelectual pelas composições que lhe são atribuídas.
Não sei de quem foi a ideia de ressuscitar esse Lizzy capenga, mas, dizem, não foi de Gorham. Exceto pela "cozinha" Tommy Aldridge (bateria)-Marco Mendoza (baixo) - cujas passagens incluem Ted Nugent e Whitesnake -, os outros três não vinham fazendo nada de relevante. Wharton é como milhares de tecladistas que existem no rock. Gorham tentou levantar uma banda, a 21 Guns, mas não foi muito longe. E Sykes, desde que saiu do Whitesnake - esteve com David Coverdale antes de Aldridge e Mendoza -, batalhou em vão pelo seu Blue Murder. E naufragou.
Atribuo a ideia desse "Lizzy" a Sykes porque deles são os principais solos, além do vocal. Vá lá que seja o único que canta (razoavelmente), mas, por ocupar duas funções de destaque, acaba sendo o nome maior. Na mixagem, os solos de Gorham estão mais baixos que o de Sykes e não creio que isso tenha sido por acaso. Na época de Lynnott claro que isso não aconteceria.
O disco é ruim? Não, ao contrário. É uma espécie de greatest hits, ou seja, sucesso certo. Nada, aliás, que não se tenha ouvido em discos anteriores do Lizzy. Não há qualquer inovação, como tirar faixas do fundo do baú, novas interpretações ou coisa assim. Não há risco. 
Sykes se sai bem como cantor e a levada da cozinha Aldridge-Mendoza é reta, sem as filigranas de Lynnott e do baterista original, Brian Downey.  Wharton faz sua parte direito e Gorham mostra por que ficou tanto tempo na banda: temperamento doce e adaptável a qualquer outro que completasse o par de guitarra - Brian Robertson, Gary Moore, Snowy White, Midge Ure ou o próprio Sykes. Era uma espécie de apoio de Lynnott na linha de frente.
"One night only" não saiu por aqui e as edições européias são geralmente caras. Eu paguei pelo original e não me arrependi pela relação custo-benefício. Sobretudo porque a melhor maneira de ouvi-lo é como um CD de tributo e não como um trabalho do Lizzy.
Ah!, por fim. Essa banda não durou uma única noite, como sugere o título do CD. Durou várias, muitas noites depois desta, que foi registrada na Alemanha. O que só reforça a desonestidade do projeto.

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