quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Da cobertura da CBF ao Botafogo campeão de 1989

Naquele começo de dezembro de 1988, antes da eleição de Ricardo Teixeira, eu tinha acabado de deixar a sucursal da revista Placar e seguira para O Globo, levado por Renato Maurício Prado, então editor de Esportes e que fizera a mesma troca. Jamais me considerei brilhante, somente esforçado - até hoje. Um pouco e autocrítica nunca é demais.
O jornal tinha uma senhora equipe de Esportes: como subs, Carlos Silva, Nilson Damasceno e Antônio Nascimento (atual editor); de redatores, Márcio Tavares, Julius Rocha, Fernando Calazans (hoje colunista) e Haroldo Habib; chefes de reportagem, Hideki Takizawa e Antônio Arruda; reporteres: Antônio Maria Filho, Marcos Penido, Mário Jorge Guimarães, Jorge Areias, Jorge Luiz Rodrigues, Álvaro Oliveira Filho, Marcelo de Moraes, Ricardo Prado, Ester Lima e eu. Certa vez, o insuspeito Roberto Porto (aliás, amigo de mais da metade da editoria) escreveu no Jornal dos Sports, onde tinha coluna, que se tratava da melhor equipe de jornalismo esportivo do Rio.
Isto posto, vamos ao que interessa: a eleição de Ricardo Teixeira. Nos dias que precederam o pleito, ele reuniu todos os repórteres que cobriam a CBF para um almoço. Na época, o presidente do pomposamente chamado "Comitê de Imprensa" era o queridíssimo Arthur Parahyba, já falecido. Parahyba, com quem tive a honra de trabalhar, era daqueles repórteres da velha guarda que perdiam a notícia, mas não perdiam a amizade. Ou seja, chapa branca. Mas era uma boníssima figura.
Em nome do "Comitê", o pobre Parahyba foi obrigado a fazer um discurso, patético registre-se. Na CBF ficava a nata dos encostados ou dos iniciantes, dentre os quais eu me inseria. O único que não se inseria nessa categoria era Oldemário Touguinhó (Jornal do Brasil). Mas lá estavam Israel Gympel (Rádio Record-SP), Baffinha (Jovem Pan), Osvaldo "Cachorrão" Pedroza, Silvio Barsetti (então Jornal dos Sports), Paulo Júlio Clement (primeiro Gazeta de Notícias e depois Jornal dos Sports), Mário Silva ou Wellington Campos (Rádio Nacional-RJ), Luiz Carlos Silva ou Elso Venâncio (para a Rádio Globo) e outros cujo nome não lembro. De vez em quando, Tino Marcos (Rede Globo) aparecia para algo mais importante.
Faziam uma cobertura sem postura crítica e se digladiando uns com os outros para ver quem ia na próxima viagem internacional da seleção. Eu, Silvio e Paulo Júlio éramos patos novos e não mergulhávamos fundo. O pessoal da Globo e Oldemário estavam acima das mesquinharias.
A certeza da vitória de Teixeira era total. Mas na construção da sua diretoria algumas coisas começaram a cheirar mal. Tal como o novo diretor de Futebol, o notório Eurico Miranda, que com Antônio Soares Calçada era dono do Vasco.
Também começaram os rumores de que Carlos Alberto Parreira, outras dessas unanimidades burras criadas pela imprensa, não viria para comandar a seleção, conforme Teixeira garantira aos jornalistas. Uns diziam que estava complicado para ele se livrar do contrato que tinha com a seleção da Arábia Saudita, que dirigiu na Copa de 1990; outros, que ele não estava a fim de se aporrinhar com o Brasil, fonte permanente de cobranças - preferia ganhar o dinheiro dele sem muita chateação.
Teixeira prometera divulgar o novo técnico da seleção no exato dia em que vencesse a eleição, que transcorreu sem problemas. Uma tensão ou outra, um cartola estadual ou outro que ainda não tinha aparecido, mas o filhote de Havelange se consagraria facilmente novo presidente da CBF. No começo da tarde, a fatura estava resolvida.
E a lista? E o novo técnico?
O tempo passava, a turma cobrava. Eis que aparece Eurico Miranda para avisar que o novo técnico da seleção era o sapientíssimo... Sebastião Lazaroni! Um camarada que em menos de três anos saíra da condição de preparador físico para a de bicampeão do Campeonato Carioca, primeiro com o Flamengo e depois com o Vasco. Estava, naquela altura, treinando um clube qualquer do mundo árabe, para onde vão todos os futebolistas que querem ganhar muito dinheiro e rápido. Claro que Lazaroni não fora sacado do bolso do colete: a futura cúpula da CBF já sabia que Parreira não viria e tratou de arranjar um estepe.
Não se pode dizer que Teixeira descumpriu a promessa de lançar uma seleção permanente, com comissão técnica formada. Também não se pode negar que trouxera um profissional que estava no Oriente Médio. Sua marca foi sempre essa: prometia uma coisa e a cumpria parcialmente. E foi levando, sempre insensado, todos esses anos.
A última grande aparição do presidente da CBF foi nos debates da Copa, no SportTV, depois que a Holanda eliminou o Brasil com toda justiça da Copa na África do Sul. Teixeira falou o que quis e como quis. Não houve críticas mais pesadas ao trabalho de Dunga, à sua postura, às suas escolhas. Ao contrário, os jornalistas presentes naquela entrevista ou estavam moídos demais pela derrota para não reforçarem os ataques que até então faziam ou perceberam que era malhar em ferro frio - seriam as mesmas respostas de sempre, de um cartola manhoso que despreza a imprensa.
Mas voltando àquela segunda-feira de janeiro de 1989, na Rua da Alfândega. A confusão custou a mim e a Jorge Areias, incumbidos de fazer a cobertura direta da eleição, um esporro em regra de Renato e uma dura geladeira de algumas semanas. Primeiramente, divulgara-se uma lista com 24 jogadores, à qual, uma hora depois, foi acrescentada nova relação, esta com seis outros nomes. Total de 30. Avisei a Areias que tinha mais gente. E prosseguimos a cobertura.
À noite, já na redação, Renato me chama:
"Fabio, que negócio é esse de que a lista não tem 24 nomes, mas 30? Ligaram lá do Sul perguntando isso. A Rádio Gaúcha está dando 30!"
A essa altura a primeira edição já estava rodando.
"É verdade, Renato...", respondi, com a voz quase inaudível.
"PU-ta-que-pa-RIU!", e se levantou indignado. Fiquei lívido. Toda a seção de Economia, logo ao lado, me olhava.Lá de longe me olhavam. Quase desmaiei.
Mal tive como dizer que havia avisado ao Areias o acréscimo dos nomes. Seguiu-se uma daquelas broncas que você jamais esquece, em que é chamado de incompetente para baixo. Estava certo de que, no dia seguinte, receberia bilhete azul.
Não foi assim. Fiquei encostado, "cobrindo" América e Bangu, que não tinham qualquer espaço no noticiário. Durou pouco tempo, mas foi doloroso. Poucos dias depois eu voltava para a cobertura da CBF, para aturar Lazaroni e seu português ininteligível.
Vieram as eliminatórias, os amistosos, os remanejamentos e fui para a cobertura do Botafogo, que em 1989 quebrou o jejum de 21 anos sem títulos. Tempos de Valdir Espinosa, Emil Pinheiro, Paulinho Criciúma, Maurício, Josimar, Renato, Luizinho, Mazolinha, Mauro Galvão, Wilson Gotardo...
Essa é outra história. Conto um dia desses.

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