segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

No fundo, as eleições municipais

Volto ao meu próprio blog para comentar a greve dos policiais da Bahia. De um lado, um governo indolente. Do outro, um movimento chefiado por cidadão que se pode classificar como um oportunista. Como pano de fundo, as eleições de outubro, que têm tudo para ser das mais sujas dos últimos tempos.
Antes de entrar no caso baiano, vou voltar ao Pinheirinho. Quem leu o noticiário, percebeu que a coisa ali era sobretudo eleitoreira: de um lado, o governo Alckmin tentando tomar as rédeas de um processo que tem tudo para o PSDB sair derrotado, criando um fato que, em tese, lhe seria favorável - a reincorporação de um terreno sob o primado da lei. Do outro, os petistas que pegaram carona numa operação desastrada, efeito de uma polícia despreparada e preconceituosa.
Quer dizer: ninguém tem razão e no meio de tudo a população, que fica refém do "quem dá mais". Claro que nesse processo o PT capitalizou melhor e não faltaram representantes do partido pregando que os desalojados do Pinheirinho sejam contemplados pelo Minha Casa, Minha Vida.
O governador Alckmin se viu refém do fogo amigo da incompetência policial, embora a lei estivesse ao seu lado. E larga atrasado numa corrida em que Fernando Haddad segue tranquilo, possivelmente contando com o apoio de Gilberto Kassab, que leiloa o apoio assim como a biruta do aeroporto segue o melhor vento.
Na Bahia, o pano de fundo é o mesmo. O chefe dos grevistas é um certo Marcos Prisco, que já foi expulso da PM baiana e tornou-se sindicalista profissional. Imiscuiu-se até em movimentos grevistas de policiais em outros estados, como se tivesse mandato para tal. Colocou a categoria a serviço dos seus interesses e, certamente, já está se alavancando para algum cargo eletivo - o de deputado estadual escapou-lhe recentemente.
Isso não quer dizer, porém, que o governo de Jaques Wagner esteja certo. Ao contrário: se os policiais estivessem minimamente contentes, não se chegaria a esse ponto de animosidade. Populista e aparentemente mais focado nas trocas de cargo na Esplanada dos Ministérios (que lhe rendem pontos na bolsa política de futuros), pretendia segurar a categoria à base de promessas e enrolações. Tudo em nome da eleição municipal.
O paiol, porém, explodiu. Fez imenso estrago nas pretensões de Wagner em influir pesadamente na disputa de prefeituras fortes, como Salvador, Ilhéus ou Feira de Santana. Não quer dizer que o PT tenha sacramentado a derrota nas urnas, mas o motim dos policiais será colocado na conta do governador quando outubro chegar. Para quem perdeu um ministro (Mário Negromonte), não conseguiu fazer outro (Juca Ferreira, na Cultura) e ainda teve de trazer para perto o ex-presidente da maior estatal brasileira (José Sérgio Gabrielli) a fim de limpar-lhe a pecha de incompetente, mas turbiná-lo para a sucessão em 2014, Wagner está navegando em maré baixa.
O pior é que a greve dos policiais tende a se espalhar. No Rio, já há notícia que dentro de em mais alguns dias os PMs vão cruzar os braços. Não estranha: Sérgio Cabral Filho enfrentou meses atrás o levante dos bombeiros e safou-se mal. Não foi pior porque o movimento perdeu a cabeça na radicalização. Mas agora, se minimamente bem conduzido, jogará o Estado no caos, obrigando o governador a recorrer às Forças Armadas para fazer a segurança.
Se a categoria estiver mobilizada e não cometer o erro de invadir prédios públicos nem de fechar os canais de diálogo, faz um estrago de imensas dimensões. E arrebenta os cacifes de Cabral para outubro próximo.
Cada dia com sua agonia, diz o mote popular. A de Wagner está no auge, a de Cabral nem começou.

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