quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O que espero do novo Van Halen

Vi o mais recente vídeo do Van Halen e aguardo ansiosamente o disco, que estava para chegar ao mercado terça-feira. Tattoo, a música em questão, não vai mudar a vida de ninguém, mas recoloca a banda nos trilhos depois de alguns anos de inatividade. Nesse meio tempo, brigas, saídas, escândalos provocados pelo alcoolismo, desmentidos e uma ansiedade geral para que voltassem à ativa.
Ouvi o grupo dos irmãos holandeses Alex e Eddie pela primeira vez numa coletânea rastaquera de um colega meu, Jonas, que estudava comigo no São Vicente. Era um desses balaios de gatos, que servem para a gravadora turbinar alguns dos seus artistas nas rádios. Era a matadora versão de You Really Got Me, do The Kinks - que se tivesse feito tudo do mesmo gênero, teria sido um dos pais do metal.
Tempos depois, não sei quem me apresentou o Van Halen I. Enlouqueci. Jamais tinha ouvido nada tão pesado. O disco era perfeito do começo ao fim. Por isso, não escondi a decepção com o Van Halen II e com Women and Children First, que vieram na sequência. São bons, mas não se comparam ao primeiro, que é irrepreensível.
A produção dos três é do craque Ted Templeman, responsável pelo sucesso do Doobie Brothers, que trabalhava associado a Don Landee na engenharia. A diferença entre o álbum de estreia e os que se seguiram é que não conseguiram repetir a agressividade do primeiro trabalho. Templeman, malandramente, diminuiu a pressão e o Van Halen passou a fazer dos shows sua catarse. Ao vivo o pau quebrava.
Depois disso vieram os bons Fair Warning, Diver Down e 1984, no meu entendimento superiores a VH II e Women... Mas o estilo da banda mudou: ficou mais elaborada e, em alguns momentos, pretensiosa. Em 1984, Eddie começou a brincar com os teclados e deu até uma cara progressivesca ao time. Surpreendeu muita gente, mas como David Lee Roth continuava à frente do circo, as pessoas aceitaram.
Só que Roth resolveu sair. Achou que não era justo ser uma espécie de empregado de luxo dos irmãos Van Halen. Partiu para uma carreira solo que começou com o pé direito, mas que, com o passar do tempo, foi cansando, sobretudo por causa da inconstância das bandas que formava. Antes de voltar ao rock pesado, gravou um EP que tinha uma releitura de I'm Just a Gigolo, galhofa pura. E quis manter esse espírito de gozação em Eat and Smile, apesar do trio estelar de instrumentistas: Steve Vai (guitarra), Billy Sheeham (baixo) e Greg Bisonette (bateria). Começou a cansar e Skyscraper e A Ain't Little Enough não repetiram o mesmo sucesso. Em Your Filthy Little Mouth desapareceu quase definitivamente.
Na outra ponta, o vaterano Sammy Hagar entrou na vaga deixada por Roth. Vindo do Montrose e de uma carreira solo relativamente bem sucedida, foi uma escolha estranha. Os fãs queriam alguém com a mesma pegada do antigo cantor e, além disso, torceram o nariz para um sujeito que em vários momentos dividiu a guitarra com Eddie - que reinava absoluto. 5150, o disco de estreia da nova formação, tinha alguns hits, foi bem, mas parecia faltar alguma coisa.
Em seguida veio OU812, uma espécie de continuação de 5150 até no nome. O auge foi com For Unknown Carnal Knowledge (forme a palavra com as iniciais), dos três disparado o melhor. Poundcake, que abre os trabalhos, é estupenda e a banda foi merecidamente premiada com o melhor clipe daquele ano - o ótimo Right Now.
Um CD ao vivo, Right Here, Right Now, trouxe versões da carreira solo de Hagar e até mesmo uma excelente releitura de We Won't Get Fooled Again, do The Who. O som é lavado demais, trabalhado demais, o que tira a naturalidade da banda. Não chega a ser um mau disco, mas não está na lista dos melhores de todos os tempos.
Balance fecha a passagem de Hagar pelo Van Halen, que saiu pelas mesmas razões de Roth: cansou-se da ditadura dos irmãos Alex e Eddie. Como tinha uma carreira relativamente bem sucedida antes, voltou à estrada por conta própria ainda mais turbinado. E com direito a levar nos shows material que ajudou a escrever enquanto esteve no Van Halen. Isso por si só era fator suficiente para agregar fãs de um e de outro.
Os irmãos sentiram o baque. Caíram no mais profundo silêncio, no mais negro limbo. Vez por outra um escândalo de bebedeira recolocava Eddie no noticiário. Alex nem isso: não à carreira solo, tampouco participação em projetos de outros músicos.
O período sabático durou alguns anos, quando resolveram voltar à estrada com Gary Cherone no lugar de Roth e Hagar. Aí a coisa desandou de vez: o ex-cantor do Extreme, banda de um único sucesso (More Than Words) e do guitarrista português Nuno Bittencourt, era uma figura deslocada. Apesar de o público adorar as frescuras de Roth, Cherone era mais afetado. E sua voz, menor que a de Hagar. Não conheço uma única pessoa que tenha escutado Van Halen III. E se não escutou foi porque, de cara, não gostou. Até a repetição do nome parece expressar um certo desânimo.
Mais um período sabático, mais escândalos envolvendo Eddie, que, dessa vez, é diagnosticado com câncer. Michael Anthony, o baixista desde sempre, resolve continuar trabalhando, agora a convite de Hagar. Os Van Halen consideram isso alta traição e rifam-no da banda.
Anthony, porém, mais parece aliviado do que triste com a demissão. Ao lado de Hagar, Joe Satriani (guitarra) e Chad Smith (bateria) funda o Chickenfoot. Dos quatro, somente Smith vive tempos de maré cheia, tocando com o Red Hot Chili Peppers e com Glenn Hughes. Mas, como se trata de supergrupo, é recebido com reverência, embora os trabalhos nem sejam tão grande coisa assim.
Os rumores sobre o retorno de Roth ao Van Halen aumentam. Uma junção de interesses provocada pela estagnação de ambos, Eddie-Alex e Roth. Mas e o baixista? Todos acharam que a punição imposta a Anthony seria suspensa. Os irmãos surpreendem ao colocar Wolfgang, filho de Eddie, na função. Mais do que nunca trata-se de uma empresa de família.
O pouco (ou quase nada) do que ouvi de A Different Kind of Truth me deixou animado. Gostava muito do trabalho de Anthony, mas não era ele quem fazia diferença - para continuarmos no mesmo adjetivo. A marca da banda, primeiro, eram Eddie e Roth, seguida da bateria estrondosa de Alex. Depois, Eddie passou a ser a única estrela de uma banda nivelada por alto, coesa e uníssona. Anthony faz parte de um universo de milhares de baixistas de boa qualidade e substituíveis.
Isso não quer dizer que o jovem Wolfgang vá fazer estrepulias. Papai e titio não vão deixar que um guri de 20 anos lhes roube a cena. Além disso, está chegando num quarteto em que três são marcantes e consagrados. Pato novo não mergulha fundo.
Melhor assim.

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