quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Às portas de 2014

Quando o ministro Paulo Bernardo admite, no site da Folha de S.Paulo, que Lula e Dilma decidirão quem disputará a eleição presidencial de 2014, não o faz por mera traição ou indiscrição. O faz para mostrar a fraqueza de uma presidente e para dizer também que há sempre uma alternativa no banco de reservas – que, dependendo das circunstâncias, pode ser melhor do que a que está em campo. E para anunciar também que todos aqueles que estão sendo atingidos por pesadas acusações de corrupção, embora sejam ligados ao ex-presidente, tal fator não é suficiente para minar o patrimônio de Lula junto ao eleitorado.
Aqui eu me confesso reticente. Não sei até que ponto algumas coisas acontecem. 1) Dilma é fraca porque não pune ou porque não pode punir?; 2) Não pode punir por causa dos partidos ou por causa do seu mentor; e 3) o desgaste de Dilma não será transferido para Lula? São incógnitas demais que, creio, nem o melhor analista político será capaz de vaticinar como será o resultado dessa equação.
Dilma está perdida. A estampa da mulher durona se fragiliza diante de seguidas evidências de que a corrupção grassa em seu governo, ainda que não tenha sido ela a responsável pela colocação dessas conspícuas figuras. Mas as mantém, e isso tem um efeito devastador. Diz-se que nem a liberação das emendas constitucionais será capaz de acalmar a dita base aliada. É verdade. O que os partidos querem é que seja levantada a fiscalização e volte-se aos bons tempos da vista grossa.
A presidente também tem que resistir à contra-pressão do seu antecessor. Para cada vontade de tomar uma atitude, o telefone celular de Lula dispara. O ex-presidente, que mantém ativos todos os interlocutores no governo e na base aliada, é pródigo em recados. Alguns até parecem que são ideias de quem os passa. Vários senadores, deputados e ministros não são nada mais que bonecos de ventríloquo, sentados que estão no colo de Lula, cuja mão nas costas lhes mexe a boca e finge a voz.
Na Operação Voucher, que botou em cana gente de peso do Ministério do Turismo, jogaram o prejuízo político no colo do ministro José Eduardo Cardozo. Não sei o que foi pior: ele dizer que nada sabia ou vir a admitir que sabia e levou adiante, a bem da moralidade. A Polícia Federal de insubordinada não tem coisa alguma. E no Palácio do Planalto tinha gente que conhecia a dimensão da operação e dos estragos que viriam. A indignação mais uma vez foi porque o telefone de Lula tocou sem parar.
Petistas, peemedebistas e outros “istas” desabafaram a irritação com o ex-presidente porque, fosse na antiga gestão, isto jamais aconteceria. O Gabinete de Segurança Institucional e a Agência Brasileira de Inteligência dariam o alerta ao quarto andar do Palácio, que provavelmente mandaria fazer uma operação pontual. Ou seja, prendesse uns e livrasse outros. O rodo dessa vez passou geral e colheu vários apadrinhados de surpresa e isso, para quem se acostumou com oito anos de frouxidão moral, é o intolerável.
O quer Lula não pode mensurar é o quanto querem que Dilma fique, porque, apesar dos pesares, é mais séria e compenetrada do que o ex-presidente. Ou melhor, é menos conivente com a formação de feudos políticos que sugam o governo sem parar. Há hoje um grupo encastelado na máquina que não deseja a volta de Lula, um pouco porque não quer largar o governo, outro tanto porque defende Dilma. Além disso, pela primeira vez uma revista de circulação nacional – falo da Veja, que surrou de forma incessante o ex-presidente por oito anos – dá respaldo à presidente. Vá lá que seja um apoio insincero e que será retirado no momento em que as coisas não se alterarem, mas isso jamais aconteceu com Lula. Para a publicação, o ex-presidente foi um desastre moral e ético, um grosseiro engano que não pode se repetir. Veja acha que ainda há espaço para que Dilma volte à trilha certa.
Haverá desgaste para Dilma? Haverá. Haverá desgaste para Lula? Haverá. Haverá uma batalha fratricida entre Dilma e Lula sobre quem disputara a corrida presidencial de 2014? Haverá. O PT vai cindir-se entre Dilma e Lula? Vai. Dilma realmente não pretende se reeleger? Não. Lula quer voltar? Quer.
A oposição poderá pegar carona nesse vácuo? Se não pegar, será de uma incompetência siderúrgica.

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