segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Cortem-lhes a cabeça

Dilma está diante de uma equação difícil, mas interessante. Quem leu o editorial da revista Veja, que foi às bancas no final de semana, percebeu algo inédito: o apoio da revista à limpeza da presidente. Noves fora a hipocrisia de querer apresentar a ela o caminho que deve ser seguido – claro, falar de fora é sempre muito fácil e a revista não tem de lidar com partidos políticos para sobreviver –, Dilma pode fazer desse limão azedo uma dulcícima limonada.
A Veja representa a voz de uma classe média irritada com a bandalheira do governo Lula. Deu parte do seu voto a Dilma acreditando justamente que o jeitão de sargento dos Fuzileiros Navais faria com que os malandrões e malandrinhos do governo passado fossem colocados para fora, sem honra nem glória. Nenhum matiz escaparia ao desejo de limpeza sonhado pela classe média, levado adiante pelo martelo de ferro de Dilma: nem petistas, nem peemedebistas, tampouco petebistas e outros penduricalhistas.
Quando a presidente passou o rodo no Ministério dos Transportes, foi aplaudida de pé. A choradeira do PR ainda engrossou a impressão de que acertara na medida. As recentes pesquisas de opinião, se não a colocam com a popularidade lá em cima, é por causa da hesitação em relação a Antônio Palocci. Com a entrada de Lula em cena, para tentar salvar o amigo e parceiro no episódio, Dilma deu a impressão de que era pau mandado. Mas acabou por dispensá-lo, apesar dos apelos do criador.
Acreditava-se que o padrão de faxina continuaria, agora na Agricultura e no Turismo. O complicado é que a briga desta vez é com o PMDB e com o PT. Ainda assim, a opinião pública continuou dizendo: “Vamos lá, presidente. Seja implacável com eles também.” Ou seja: a sociedade está avisando a ela que está cansada, farta, de os mesmos continuarem assaltando os cofres públicos. Não aguenta uma carga tributária violenta que, no final das contas, serve somente para engordar o porquinho do governo, cuja chave uma parcela de ungidos tem acesso. E disso faz uso gostosamente, às vezes aumentando o patrimônio em mais de 85 mil por cento, como aconteceu com o filho do ex-ministro dos Transportes.
Do outro lado do balcão estão os malandrinhos e malandrões, que já fizeram greve branca no Congresso, reclamaram das algemas nas prisões feitas pela Polícia Federal, não suportam o tratamento de desprezo dispensado por Dilma a eles, e vivem fazendo ameaças e mandando recados pela imprensa. Todos os dias, jornais, TVs, revistas e net mostram a atuação dessa turma e não a poupa, inclusive classificando-a com os adjetivos mais pejorativos: chantagistas, usurpadores, espertalhões, entre outros. Os fins de semana tornaram-se não de descanso e paz, mas de tensão, angústia e, em algumas vezes, de ódio. Na sexta-feira, não são poucos os governistas que têm acessos de sudorese e outros sintomas de mal-estar.
Lula, no auge das suas crises, disse que bastava se apegar ao povão que as coisas se ajeitavam. Dilma pode tentar fazer o mesmo, não com o povão, mas com a classe média pagadora de impostos. O PT, inclusive, está muito preocupado com esse estrato social, que abandonou durante os oito anos de lulismo. Sobretudo porque, com as melhorias econômicas, houve o alargamento da faixa da classe média, já que muita gente ascendeu à condição de incluída na economia. É para esse povo que Dilma fala hoje; uma gente para a qual já não basta consumir bens antes inalcançáveis, tampouco trabalhar para que o filho faça a universidade que o pai e a mãe não fizeram.
Esse povo quer é que o dinheiro dos seus impostos seja respeitado, aplicado com transparência e correção. A inclusão econômica tem isso de bom: obriga o cidadão-contribuinte-eleitor a se preocupar mais com o destino do seu voto e o caminho que faz o dinheiro do salário que ganha, cuja parte expressiva é tungada na forma de tributos. Dilma deve explicações a essa gente.
E essa gente está dizendo assim: arranque a cabeça, presidente. Difícil, porém, é mensurar se a classe média, velha e nova, tem cacife político para bancar a presidente, em caso de um confronto direto com o Congresso. Da mesma forma como é difícil saber se a Dilma vai fazer a classe média de rede de proteção, enquanto se equilibra no trapézio no alto do picadeiro.

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