quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Estancando a sangria


A saída de Wagner Rossi é a prova de que a presidente Dilma faz mais política do que muita gente imagina. Claro que houve uma mudança de postura entre a atitude dela ante a crise do Ministério dos Transportes e a do Ministério da Agricultura. Com Alfredo Nascimento, houve sim uma medida maior de força do que com Rossi e a razão disso é o PMDB. O PR não é levado a sério pelo Palácio do Planalto, sobretudo quando o ex-ministro e hoje senador anuncia postura de independência, que o partido entregará os cargos no governo, mas não se tem notícia de nada tenha sido feito nesta direção.
Rossi poderia até não cair agora, mas não resistiria à reforma ministerial que – comenta-se – virá no final do ano. Sairia pela porta da frente e depois de receber tempo suficiente para fechar negócios inacabados. Porém, perdeu-se ao achar que ética é um conceito elástico, que pode ser explicado conforme os olhos de quem o vê. Foi por isso que se traiu ao afirmar que não via nada de mais em pegar carona no jatinho de um empresário que tinha negócios com o Ministério. Negócios, aliás, que experimentaram imenso avanço desde a chegada de Rossi.
Da mesma forma, foi devastadora a entrevista de um funcionário da pasta ao Jornal Nacional, afirmando que nas concorrências do Ministério havia cartas marcadas. Nada disso era novidade: a Veja trouxera o caso na edição do final de semana, dando nomes e datas, e ainda chamou a atenção para o oásis que o ex-ministro tinha no interior de São Paulo. Não terminou aí: mostrou que o patrimônio de Rossi engordou como gado bem nutrido desde que entrou para a política.
A revista mostrou mais. Que o ex-ministro tinha uma ligação umbilical com Michel Temer, que passava pelo Porto de Santos. As histórias envolvendo o vice-presidente e as maiores docas do País são conhecidas há tempos e comentadas à boca pequena. Na medida em que algo assim aparece, com dados concretos, a luz amarela acende. Temer quer ficar com o espólio de Orestes Quércia em São Paulo e suspeitas como essas são pedras no caminho. Sem contar o prejuízo que isso traz para a imagem do governo federal e para a União. Afinal, Temer é o segundo homem da República.
No momento em que todos esses fatores foram misturados, Temer e Dilma tiveram de conversar. O prejuízo causado pela denúncia ameaçava desmoralizar o governo. Era um desgaste que o Palácio do Planalto poderia evitar, não estivesse o PMDB do outro lado da linha. Fisiológico e acostumado com o estilo Lula de atropelar a moralidade, o partido não se conforma com o fato de os ventos não serem mais os mesmos.
O problema era achar uma equação que não colocasse a legenda à beira do precipício. A carta de demissão, sob a justificativa de que a família de Rossi não aguentava mais os aborrecimentos trazidos desde que a denúncia veio à tona, é protocolar. Mas funciona. Afinal, família é família, por pior que seja o chefe dela.
Posso afirmar que em relação a Pedro Novais a mesma saída está sendo gestada. O problema é, mais uma vez, não deixar o partido exposto com outra dispensa desonrosa, apesar de todos os eufemismos e disfarces que uma medida dessas possa ter. Dependendo daquilo que as revistas trouxerem neste final de semana, o ministro do Turismo joga a toalha.
Novais, porém, foi mais traiçoeiro que Rossi: disse que fica à frente da pasta até quando Dilma quiser. Ou seja, jogou para ela a responsabilidade de dispensá-lo, criando um problema entre a presidente e o PMDB. Mas ela não é boba e percebeu a esperteza.
Novamente, se preciso for, Dilma vai chamar Temer para chegarem a um nome para substituir Novais que agrade a todos. No Palácio do Planalto, há o consenso que trocar ministro traz traumas, mas apanhar da imprensa, que expõe os malfeitos de algumas figuras do primeiro escalão, é ainda pior. Trocar ministro não abrevia governo. Pressão de jornalista, sim.

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