terça-feira, 2 de agosto de 2011

Nascimento fala, eu rebato

Gosto de ler a Veja. Geralmente pesa a mão contra o governo, sobretudo desde que Lula chegou ao poder. Com Dilma tem tido mais boa vontade: não a coloca (ainda) no rol dos grandes bandidos petistas, que a revista se farta de apontar como responsáveis pelas malezas passadas, presentes e futuras do País. Mas... Mas é sempre bom tomar cuidado com a Veja. Pode ser que as acusações feitas pelo irmão de Romero Jucá não gerem a mesma onda de demissões causada pelas denúncias contra Alfredo Nascimento. E, aí, a publicação se volte com força contra Dilma.
Enquanto isso não acontece, comento a matéria abaixo, tirada do site da Veja. É o discurso do hoje senador Alfredo Nascimento, na tribuna da Casa. Falar, não falou. Por isso, vou comentar (em vermelho) cada parágrafo da reportagem sobre esse anticlímax constante provocado por ex-integrantes do governo.

O ex-ministro dos Transportes e senador Alfredo Nascimento (PR) ocupou a tribuna do Senado, nesta terça-feira, para, durante quarenta minutos, falar sobre o esquema de corrupção na pasta, revelado por VEJA - que culminou na sua queda e numa verdadeira "faxina" ordenada pela presidente Dilma Rousseff. O senador negou irregularidades em sua gestão e disse que trabalhou com lisura e clareza. “Venho aqui com consciência tranquila", afirmou. (No dia em que um homem contra o qual pesam tantas e várias acusações chegar na tribuna do Senado, colocar na boca o cano de um revólver e disparar na frente de todos, algo terá mudado nesse país. Enquanto isso não acontece e figuras como essa se consideram personagens honrados, o desmoralizado jargão "consciência tranquila" saltará da boca como perdigotos)

Nascimento afirmou que deixou o governo porque não recebeu o apoio que esperava da presidente. “Em momento algum pedi ou determinei ação de que pudesse me arrepender ou me envergonhar e somente agora fui submetido a um julgamento sem provas e de forma tão sumária. Renunciei ao cargo diante dos ataques a mim proferidos e porque não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidente Dilma Rousseff”, declarou. (As acusações e provas contra Nascimento são pesadíssimas. Receber o apoio de Dilma seria a constatação de que o governo terminara sete meses depois de começado. O ex-ministro pode até não ter pedido nem determinado ação que pudesse se arrepender ou envergonhar, mas calou. Ou fez ouvidos de mercador. Portanto, consentiu. Além disso, ele não explicou o estupendo salto patrimonial da empresa do filho, que com 27 anos de idade multiplicou-lhe o valor em 86 mil por cento.)

O ex-ministro disse que recebeu o convite de Dilma para continuar à frente dos Transportes na gestão dela pelo “excelente” relacionamento pessoal e político que tinha com a presidente. (Não é verdade. Dilma jamais teve simpatias por Nascimento. Na verdade, nutria-lhe até certo desprezo, pois o considerava inepto e trapalhão)

PR - O senador saiu em defesa do PR, partido pivô do escândalo nos Transportes: “Não sou lixo, meu partido não é lixo. Nossos sete senadores não são lixo. O PR não é lixo para ser varrido da administração. Não somos melhores nem piores do que ninguém. Em momento algum recebi pedido ou determinei prática de qualquer ação contra os cofres públicos, nem autorizei uso do meu nome para interesses partidários dento da administração.” (O PR, que nasceu da junção do PL com o Prona, abriga figuras conspícuas da política nacional. O vídeo da reunião entre Nascimento, o deputado Valdemar Costa Neto e um deputado federal maranhense, pertencente ao baixo clero, mostra que algo errado havia no Ministério. Sobretudo porque Valdemar fala todo o tempo, ciente de que aquela verba seria a moeda de troca para que o parlamentar deixasse seu partido rumo ao PR. Aliás, Valdemar fala com uma propriedade tal que mais parece ele o ministro, e que o ministro seria um mero carimbador. O PR, de fato, não é melhor nem pior que ninguém, principalmente depois do Mensalão, em que caiu por terra a postura de vestal dos petistas. Também concordo que seus parlamentares não são lixo, mas somente do ponto de vista humano.)

Nascimento admitiu, por outro lado, a influência do deputado Valdemar Costa Neto (PR) na pasta. “De minha parte nunca vedei a presença dele ou de qualquer outro parlamentar que tenha procurado meu gabinete. Meu gabinete nunca se fechou sequer aos representantes de partidos da oposição. Todos os que me procuraram foram atendidos.” (A presença do deputado até se justificaria, desde que as coisas não se misturassem. Foi exatamente isso que NÃO aconteceu.)

O ex-ministro aproveitou para sair em defesa do filho, Gustavo Morais Pereira, que teve um crescimento de 86.500% do seu patrimônio, totalizando mais de 50 milhões de reais. A revelação foi feita pelo jornal O Globo. “O meu filho não é ladrão. Vou provar porque tenho toda documentação da Receita Federal, do imposto de renda do meu filho e do balanço patrimonial. Vou buscar correção da injustiça que cometeram com meu filho”. De acordo com o ex-ministro, seu filho não tem nenhum contrato com o governo federal e construiu seu patrimônio por “esforço próprio” e sem sua ajuda. (Claro que papai ministro não colocaria a mão nessa cumbuca. Seria estúpido demais. Mas certamente teria dado indicações ao filhão gênio das finanças. O caminho das pedras é precioso em algumas situações. Sobre a documentação na Receita, isso não prova nada: um bom contador sabe perfeitamente como driblar o leão. A expressão "esforço próprio" sequer merece comentários.)

Ele disse que colocou à disposição da Polícia Federal o acesso a seus dados bancários e fiscais. “Volto a rechaçar de modo veemente e categórico as suspeitas contra mim. Fui condenado sem apresentação de uma prova sequer.” (Aqui o senador se equivoca, provavelmente por causa do hábito do cachimbo, que deixou-lhe a boca torta. Tudo, rigorosamente tudo, que se passa no Ministério deve estar sob o controle do seu responsável. Ninguém engoliu o "eu não sabia" de Lula, no caso do Mensalão; portanto, não se pode engolir a mesma justificativa de Nascimento. Ele pode não ter participado diretamente de qualquer falcatrua, mas é estranho como começaram a pipocar denúncias de que seus auxiliares estavam ligados a toda sorte de negócios estranhos. Do DNIT à Valec, tudo parecia contaminado pelo interesse escuso, facilitado pelos homens de dentro da Pasta. Havia até mesmo um chamado "Casal DNIT": a mulher do executivo da autarquia era a encarregada de encaminhar os processos das empresas interessadas; uma despachante altamente gabaritada, já que seu marido era quem fazia correr ou parar os processos. Se isso não é anti-ético, imoral e desonesto, temos de alterar as definições para estes conceitos a partir desse momento. Além do mais, espera-se que o governo abra ações judiciais contra Nascimento e todos os afastados do Ministério. Aí, à Justiça caberá culpar ou inocentar tais personagens.)

Reunião - Nascimento se queixou de não ter sido convidado para a famosa reunião de Dilma no Palácio do Planalto no dia 24 de julho, detalhada por VEJA. No encontro, a presidente reclamou dos preços de obras que estavam acima do preço de mercado. E disse que os dirigentes do setor de Transportes precisavam de uma “babá”.  
“Não fui avisado, nem convocado para esse encontro. No dia 24 de julho falei duas vezes com a presidente Dilma por telefone. Na tarde daquele dia meus subordinados me informaram da reunião e vi o conteúdo na revista VEJA. Me pergunto até hoje por que Dilma não me convocou para a reunião. Será que a presidente não queria que eu participasse da conversa?”, disse Nascimento. (Sim, não queria. Seu destino já estava selado)

De acordo com o senador, antes mesmo da reunião convocada por Dilma, ele já havia levado suas preocupações sobre o descontrole do PAC à ministra do Planejamento, Miriam Belchior. “Nesse encontro concordamos com necessidade de revisão do projeto. Dias depois falei com a presidente e disse que começava a trabalhar para o ajuste necessário às obras de sua gestão. Na prática, o cenário que encontrei em janeiro significava que a nossa gestão não tinha recursos para efetuar nenhuma nova ação. Mantido o orçamento, não teríamos o PAC 2.” (A presidente já sabia que o responsável pelo descontrole tinha nome e sobrenome: Alfredo Nascimento. Nada daquilo que dissesse iria mudar a certeza de que o grau de contaminação dentro do Ministério tornara-se elevado mesmo para os mais tolerantes padrões. Dilma simplesmente não quis insistir no erro. E limpou a área)

Nenhum comentário:

Postar um comentário