terça-feira, 27 de março de 2012

Assim é e assim será

Jamais escondi minha admiração por Reynaldo Azevedo. Insistem em chamá-lo de fascista, quando, na verdade, suas análises são lúcidas e repletas de argumentos quase sempre irrefutáveis. De vez em quando me arvoro em discordar dele, embora reconhecendo que não disponho da mesma cultura e capacidade de enfileirar fatos e informações. Mas tento. Sobre o post que ele publicou no blog que mantém na Veja, façam a leitura que, mais abaixo, entro com minha opinião.
Ahmadinejad pretende riscar Israel do mapa. E quem pode criticar Israel?


Israel rompe com Conselho de Direitos Humanos da ONU. Faz bem! Aquilo é um Conselho de Ditaduras


Israel rompeu o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que aprovou mais uma resolução contra o país e decidiu investigar os assentamentos judaicos na Cisjordânia. Fez muito bem! Fosse eu governo, faria a mesma coisa. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, foi ao ponto. “Este Conselho, com maioria automática hostil a Israel, é hipócrita e deveria se envergonhar. Foram tomadas 91 decisões, 39 delas relativas a Israel, com três referentes à Síria e uma ao Irã.”
A conta dele está certa e fala por si mesma.
Conselho de Direitos Humanos? Aquilo parece uma piada, um antro de ditadores e vigaristas. Trata-se de um arranjo político, para dar “poder aos pequenos”, daí que a distribuição de cadeiras obedeça a um critério regional. Só os EUA se opuseram à resolução contra Israel. Dez países se abstiveram, e os demais votaram a favor. Muito bem. Abaixo, segue a lista a dos países que integram o tal conselho entre junho de 2011 e dezembro de 2012. Volto depois.

ÁFRICA
Angola 2013
Benin 2014
Botswana 2014
Burkina Faso 2014
Camarões 2012
Congo 2014
Djibouti 2012
Líbia 2013
Mauritânia 2013
Ilhas Maurício 2012
Nigéria 2012
Senegal 2012
Uganda 2013

AMÉRICA LATINA
Chile 2014
Costa Rica 2014
Cuba 2012
Equador 2013
Guatemala 2013
México 2012
Peru 2014
Uruguai 2012

ÁSIA
Bangladesh 2012
China 2012
Índia 2014
Indonésia 2014
Jordânia 2012
Kuwait 2014
Quirguistão 2012
Malásia 2013
Maldivas 2013
Filipinas 2014
Qatar 2013
Arábia Saudita 2012
Tailândia 2013

Europa Ocidental e outros países
Áustria 2014
Bélgica 2012
Itália 2014
Noruega 2012
Espanha 2013
Suíça 2013
Estados Unidos 2012

EUROPA ORIENTAL
República Tcheca 2014
Hungria 2012
Polônia 2013
Moldávia 2013
Romênia 2014
Rússia 2012

Voltei – A África, por exemplo, tem direito a 13 das 47 cadeiras. Tente encontrar 13 países naquele continente que tenham os direitos humanos como fundamento… Não se esforce tanto. Se achar cinco, já está bom… A América Latina fica com oito. Cuba, que acaba de prender 70 pessoas, com boas-vindas ao papa, brilha no grupo. Veja o grupo da Ásia. Alguém conhece país mais humanista do que a China, para citar um caso?
As resoluções do Conselho de Direitos Humanos são essencialmente políticas, pautadas, não raro, por um antiamericanismo patológico. Digamos que seja o caso de investigar os assentamentos judaicos na Cisjordânia… Por que não o massacre de cristãos na Nigéria ou na Indonésia, a perseguição aos dissidentes em Cuba e o permanente massacre no Sudão (a divisão mudou muito pouco a realidade do país)?
É claro que todas as nações que aderem à Carta da ONU têm de ter seu assento e coisa e tal. Mas é uma piada grotesca que notórias tiranias façam parte justamente de um “Conselho de Direitos Humanos” e que esse conselho tenha Israel como seu alvo principal. Morrem mais cristãos em um mês na Nigéria ou no Sudão do que palestinos em 10 anos. Todas as mortes nos diminuem, é evidente, mas por que alguns cadáveres não merecem nem mesmo as lágrimas da hipocrisia.

Kadafi nos bons tempos de ditadura na Líbia
Agora sou eu - Concordo com tudo o que ele diz. E acrescento uma conversa que tive, há muitos anos, como embaixador Adolpho Justo Bezerra de Menezes, com quem gostava de trocar ideias. (Quando o conheci, por meio do jornalista Argemiro Ferreira, o embaixador já passava dos 80 anos. Nossos últimos diálogos têm pelo menos uns 15 anos. Não acredito que esteja vivo ainda, mas, se estiver, deixo claro que foi uma das cabeças mais privilegiadas com as quais tive o prazer de conviver.)
Diplomata de carreira, com passagens pela África e pela Ásia, o embaixador enfatizou a mim algumas coisas absolutamente óbvias, mas que, por vezes, passam despecebidas:
1) Israel é a única democracia num mar de ditaduras, muitas disfarçadas de monarquias e assim tornadas por obra e graça das antigas potências imperialistas. Estados Unidos, Inglaterra ou França jamais deram almoços gratuitos. A conta vinha sempre depois. E geralmente em formato de alinhamento incondicional, tanto diplomático quanto comercial;
2) Para controlar e tirar proveito, as potências se uniram ao que havia de pior nesses países da África, da Ásia, da América Latina (e, no caso da Europa Oriental e de parte da Ásia, os comunistas). Essa gente simplesmente arrasou tudo o que havia acima da terra. Contra eles, surgiram movimentos de reação que igualmente utilizaram a linguagem da violência e do confronto. O resultado é que, quando a maré virou e esses mesmos movimentos de reação chegaram ao poder, não conheciam nenhuma outra linguagem a não ser a da brutalidade. Essa brutalidade abriu a porta ao oportunismo de uma nova elite dirigente, que sem qualquer prurido decidiu saquear aquilo que restava do país antes que tudo desaparecesse.
Fico pensando: como são ricas nações como Angola ou Líbia, que passaram de um extremo ao outro e ainda constam no mapa.
3) As populações gostam de ditaduras. Basta que os mandatários trabalhem minimamente em favor do cidadão, elejam inimigos externos para galvanizar o sentimento nacionalista e tenham um marketing eficiente para divulgar supostos feitos e avanços.
Lembro o caso da Líbia: Kadafi durante anos engabelou seu povo com a chamada Grande Jamahyria Popular Socialista da Líbia, que queria dizer que a partir daquele momento o país viveria dias de justiça e progresso. Não poupou esforços para assegurar a falácia, levando inclusive jornalistas brasileiros para mostrar os avanços sociais que o novo governo estava sendo implementado. Voltaram todos brandindo o Livro Verde, um arrazoado de bobagens. Da mesma maneira que muitos se encantaram com aquela Cuba que era bancada pela extinta Uinião Soviética, em que nada faltava, tudo avançava, sobretudo as demandas sociais por saúde, educação e esporte.
Hoje, tais nações se arrastam sem apoio financeiro algum, dependentes somente dos próprios recursos e das oportunidades que amealham, e ainda insistem no propagandismo obsoleto de que os culpados são os outros e que os inimigos vêm de fora.
Ninguém nesses países, nem mesmo seus dirigentes, acreditam nisso. Só que cada um faz seu papel: quem é governo, suga o máximo possível, retira a última seiva, na esperança de mesmo no poder as coisas virarem a seu favor e o vento voltar a inflar as velas; quem é povo protesta enquanto pode e foge - se der.
Resumo da ópera: o mundo não muda e quem acusa não tem moral para acusar. É isso há milênios. E pelo andar das coisas, continuará assim.



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