quinta-feira, 8 de março de 2012

Babakers

Jamais neguei que fosse fã do Reynaldo Azevedo. Reproduzo post publicado no blog dele, na Veja. E mais abaixo dou minhas peruadas:

Euclides da Cunha descreve os “bikers”, antes de tudo, uns chatos!

Olhem aqui: eu não ataquei ciclistas coisa nenhuma nem sou contra as bicicletas. Eu critiquei, sim, os fascistóides que acreditam que podem parar a Avenida Paulista. Sabia que a reação seria violenta porque já havia percebido que essa gente acha que pode fazer o que lhe dá na telha.  A agressividade e a falta de humor, no entanto, chegam a ser surpreendentes. Ah, sim: eu produzo menos carbono do que a maioria. Não dirijo. Detesto sair de casa. Quase tudo o que me interessa está aqui, em papel e palavras…
Apóio bicicletas, ciclovias, o que for. Não apóio fascistas sobre duas rodas. Abaixo, segue um texto inteligente e engraçado do leitor que se assina “Viva Galt!”. Não é para todos os ciclistas, claro!, apenas para os ativistas que operam segunda a lógica dos terroristas: “Temos o direito de impor danos à sociedade para defender nossas idéias”. Eles são “cicloativistas”, e eu, “democrático-ativista”; eles são “cicloafetivos”, e eu, “democrático-afetivo”.
“Viva Galt!” imaginou Euclides da Cunha descrevendo os “bikers” nos sertões éticos das ruas de São Paulo. Tenham humor, senhores “bikers”! Venham para a luz!
*
“O cicloativista é, antes de tudo, um chato! Não tem a ranhetice exaustiva dos sinistros neurastênicos da militância global.” (…) É intelectualmente desgracioso, visionariamente desengonçado, torto na ilusão. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica das mafaldinhas e remelentos. O pedalar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação das idéias de jerico desarticuladas. Agrava-o a postura normalmente curvada, a cueca suada, num manifestar de xumbregância que lhe dá um caráter de humildade deprimente. (…). É um homem permanentemente fatigado de tanta pedalada. Combate a preguiça invencível a garrafinha cheia de isotônicos, espantando a dorzinha muscular perene…. Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Naquela organização combalida de cicloativistas operam-se, em segundos, transmutações completas do Tico e do Teco. Basta o aparecimento de qualquer manifestação na Paulista exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se; pega a sua bike e a sua garrafinha bacteriana (…), e corrigem-se-lhe,  prestes, numa descarga nervosa instantânea orgástica, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias: salvarão a humanidade com suas cuequinhas de lycra, seus capacetinhos ridículos, luvinhas furadas e selinzinhos peludos”.
Euclides da Cunha.
Encerro
Não ligo para os Antônios Conselheiros sobre duas rodas e suas correntes nas redes sociais. Enfrentei autoritários piores aos 16 anos, quando havia uma ditadura no Brasil. E o fiz para que houvesse democracia. Aprendam a se comportar com civilidade, seguindo as regras da democracia, e aí vamos ver se é o caso de levá-los a sério.

Um grande amigo meu, Jorge Eduardo Antunes, certa vez definiu com precisão essa turma: "babakers". Mas acho que babaca é todo aquele que leva a sério demais, sem humor algum, suas reivindicações, protestos, modos de pensar e de viver. O cara que não ri da vida é um idiota.
Cicilista radical bate-boca com cidadã prejudicada pelo protesto em São Paulo
São cada vez maiores as parcelas da sociedade que querem ser politicamente corretas. E partem para o fascismo tentando impor, na porrada, aquilo que defende a quem pensa diferente. Prefiro a galhofa do cara que finge pegar surfe no espelho d'água do Congresso, em protesto contra o Código Florestal, que a turma de econazistas que ataca fisicamente deputados e senadores (por mais escrota que a categoria de políticos seja) e se acorrenta em prédios públicos. Tenho horror de manifestações do gênero "Abraço na Lagoa" ou protestos pela orla do Rio, que, já percebemos, surtem pouco efeito prático. Nem mesmo espaço de jornal obtêm mais.
Trabalho num agente público que é um prato cheio para ataques fascistóides. Primeiro, porque os críticos defendem um ponto de vista irreal, sem terem a menor noção do funcionamento (quando funciona!) da máquina pública. Segundo porque, para eles, os recursos que são arrecadados dos impostos que pagamos devem estar disponíveis, de qualquer maneira, para que levem adiante delírios e projetos que não têm qualquer relevância.
O agente público tem, sim, imensas falhas, começando pela incapacidade gerencial e pela falta de senso de prioridade. Mas fico imaginando o que seria de áreas como cultura, saúde, educação ou esporte se estivessem entregues aos ongueiros radicais, uma alcateia de farsantes ávida por colocar a mão no cofre da viúva.
O sujeito que pega sua bicicleta e para o trânsito de São Paulo, em suposto protesto, para mim é tão nocivo quando o caminhoneiro grevista que deixa uma cidade seca de combustível. O cara que se acorrenta a um prédio público para mim é tão energúmeno quanto o sem-terra que invade um ministério sob alegação de que quer um pedaço de terreno para produzir. A passeata na orla do Rio pedindo o fim da violência para mim é tão inútil quanto o estudante, com  quase 30, anos que chefia uma rebelião na USP em favor da falta de policiamento no campus e o direito de fumar maconha sossegado.
Mas, vejam, não prego aqui que deixem de expressar para todos o quanto são burros e reacionários. Isso eles podem fazer à vontade. Faço como Voltaire:

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las".

Não quero é que venham tapar minha boca ou me impedir de discordar.

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