segunda-feira, 5 de março de 2012

Merecido descanso depois de tanta luta


Leio agora no UOL que o guitarrista Ronnie Montrose morreu hoje, aos 64 anos, nos Estados Unidos, vítima da reincidência de um câncer de próstata. Calculo que o grande feito da carreira de Ronnie foi lançar Sammy Hagar, que, depois, desembestou rumo ao estrelato ao substituir David Lee Roth no Van Halen. Fora isso, Ronnie foi um guitarrista correto, mais nada.
Ronnie bem antes do câncer
Seu melhor disco é aquele intitulado somente "Montrose", que traz alguns rocks que fizeram época, como Rock Candy. Além de Hagar, a banda nesse trabalho é completada por Denny Carmassi (bateria, mais tarde no Hart e no Whitesnake) e Bill Church (baixo). É bom sem ser excepcional.
Ronnie jamais entrará para a lista dos 10 melhores guitarristas dos anos 70. Como solista, era absolutamente normal. A força do seu material vinha justamente na combinação de bons riffs com a voz rasgada de Hagar, que segurava a guitarra base.
Voltou a ter alguma importância quando foi chamado para viajar na segunda edição com a trupe de Night of the Guitar. Era um projeto legal, trazendo de um bom número guitarristas importantes (Randy California, Robbie Krieger, Alvin Lee, Leslie West e outros) que estavam esquecidos ou desmerecidos pela indústria.
Ronnie tocou com vários artistas, todos muito bons. Desde o fusion de Tony Williams ao soul/blues de Edgar Winter e de Van Morrison, passando até pelo jazz de Herbie Hancock. Seus discos-solo se confundiam com os da banda, que levava seu sobrenome, e não se pode dizer que deixou algo de especial. Suas apresentações eram conhecidas pela potência e pelo embalo, mas a irregularidade dos trabalhos fez com que fosse perdendo potência já bem perto da década de 80.
A indústria da música é repleta de Ronnies, uns com mais carisma outros com menos. Têm a velocidade e a intensidade de um cometa. Depois que passam, escontram dificuldades em mostrar algo novo. A lista de guitarristas com perfil semelhante é grande: Pat Travers, Rick Derringer (embora inegavelmente muito superior a Ronnie e a Pat) e, da geração surgida nos anos 80/90, Craig Eriksson,  Greg Howe, Tony Macalpine, Richie Kotzen e outros tantos. Todos autores de trabalhos sem grande importância e que, em alguns momentos, brilham muito mais em discos como convidados do nos seus próprios.
Carmassi, Church, Montrose e Hagar: o melhor disco
Acho difícil que Ronnie Montrose deixe saudades pela sua música. Claro que lastimo sua morte, sobretudo em função das circunstâncias. Não tinha um estilo inconfundível, uma característica marcante, enfim, algo que o definisse de longe.
Já deve ter acontecido com vários de nós que gostamos de música: o cara some por uns tempos, lança um disco, a gente compra, nos decepciona - e ele desce ainda mais fundo no conceito dos fãs. Sobrevive das apresentações, sendo lembrado pelas participações.
Não o conheci de perto, mas calculo que Ronnie deve ter lutado ferozmente contra o ostracismo. Não me recordo de tê-lo visto em resenhas, documentários ou coisa assim sobre guitarras, guitarristas, hard rock ou anos 70.
Enfim, talvez estivesse mesmo na hora de descansar depois de tanta batalha.

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