O texto abaixo em vermelho foi publicado no Valor Econômico de hoje. Leiam direitinho. O importante, claro, está no lide, que marquei em negrito.
Dilma reforça poderes
de Celso Amorim na Defesa
Por Fernando Exman e Daniela Martins | De Brasília
Diante das recentes críticas de militares da reserva ao ministro da Defesa,
Celso Amorim, a presidente Dilma
Rousseff prepara uma ação para fortalecer o subordinado no cargo. A operação
terá duas frentes: a liberação de recursos para a Pasta e sinais políticos que
não deixem dúvidas aos militares da ativa de que é Amorim o interlocutor da categoria que terá acesso ao Palácio do
Planalto para negociar o reaparelhamento das Forças Armadas e reajustes dos
soldos.
Dilma dá força a Amorim: mal aconselhada e mau conselheiro |
O expediente também foi usado com sucesso durante a administração Luiz
Inácio Lula da Silva, quando o ex-ministro Nelson Jobim fez o mesmo para
aumentar sua autoridade junto aos militares. Agora, porém, a decisão está
relacionada à conflagração da ala dos militares reformados que criticou
recentes declarações de ministros do governo em relação à ditadura e à futura
instalação da Comissão da Verdade.
O próprio Amorim começou a
tirar do papel a estratégia. Ontem, após participar de uma audiência pública no
Senado, cobrou respeito de civis e militares à lei que criou a Comissão da
Verdade e reiterou seu compromisso com a modernização das Forças Armadas. O
Orçamento de 2012 prevê R$ 64,8 bilhões para o Ministério da Defesa, uma alta
em relação aos R$ 61,4 bilhões estimados para a Pasta no ano passado. Em 2010, a execução financeira
do ministério totalizou R$ 59,8 bilhões.
"O que é importante é o respeito à autoridade civil. Isso é parte da
democracia, da mesma maneira que respeitamos o profissionalismo dos militares.
O governo tem dado demonstrações efetivas disso, inclusive recriando condições
de trabalho [dos militares] que estavam muito precárias", afirmou o
ministro a jornalistas. "Vamos continuar dando com o Plano de Articulação
e Equipamento de Defesa. Estamos também atentos às questões que dizem respeito
às condições de vida material das Forças Armadas."
Uma das principais tarefas de Amorim
será ajudar Dilma a concluir o processo de compra de 36 novos caças para a
Aeronáutica, o que deve ocorrer até junho. Até lá, a presidente pretende
observar os desdobramentos das eleições presidenciais da França e ter pelo
menos duas importantes conversas que a ajudarão a definir o vencedor. Uma delas
será com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem fará uma visita
nas próximas semanas. A outra será uma reunião bilateral com os líderes da
Índia, à margem da cúpula do Brics. Além do Rafale, da Dassault, que no governo
Lula era considerado o favorito a vencer a concorrência, também estão na
disputa a norte-americana Boeing, com o F-18 Super Hornet, e a sueca Saab, com
o Gripen.
A mensagem enviada pela presidente ao Congresso também prevê a manutenção de
uma série de investimentos na área durante o ano. A Aeronáutica, por exemplo,
deve continuar o processo de modernização do sistema de controle aéreo. A Força
Aérea Brasileira também modernizará algumas aeronaves já em uso.
Para a Marinha, o Executivo estimou a compra de oito embarcações para
operações anfíbias, a reforma de um navio-hospital, cinco navios patrulha e
outros cinco para escolta, um para apoio logístico, a elaboração de um projeto
para a construção de um novo porta-aviões e a entrega de seis helicópteros até
o fim do ano. Já o Exército pretende implementar, projeto-piloto para a
proteção das fronteiras contra o tráfico de drogas e armas, assim como fazer o
planejamento de defesa da infraestrutura estratégica ao país, nos setores de
energia, transportes, telecomunicações, petróleo e gás natural. A Força também
planeja investimentos na indústria nacional que permitam a renovação da frota
de blindados.
Mesmo assim, a crise protagonizada pelos militares da reserva ainda preocupa
as autoridades do Palácio do Planalto. Além da proximidade da instalação da Comissão
da Verdade, que terá dois anos para investigar os crimes e as violações aos
direitos humanos praticados durante os governos militares, as Forças Armadas
têm executado diversas funções consideradas estratégicas para o governo. Os
militares são responsáveis, por exemplo, pela construção de diversas obras do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e foram acionados para garantir a
segurança em Estados que enfrentaram greves de suas polícias militares.
Na semana passada, os comandantes dos clubes Naval, Militar e da Aeronáutica
divulgaram nota reclamando da omissão de Dilma em relação a declarações das
ministras das secretarias de Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República e também da cúpula do PT sobre a luta pela redemocratização
do país e mudanças na Lei de Anistia. Dilma então cobrou do ministro da Defesa
que o comunicado fosse desmentido, o que ocorreu num primeiro momento. Em
seguida, no entanto, a adesão às críticas feitas pelos militares reformados
aumentou e a categoria divulgou novo documento dizendo desconhecer a autoridade
de Amorim. O Palácio do Planalto
cobrou então a punição dos envolvidos. Segundo o ministro da Defesa, esse
assunto se encontra agora "na mão dos comandantes das Forças".
Em 2 de março, fiz um post intitulado "Ou é burrice ou é turrice", no qual listei em 10 itens os problemas da crise entre os militares e o governo. Vejam só o que eu disse no sétimo:
7) A presidente precisa entender que
está com a faca e o queijo na mão. (Não, você não lerá o item anterior.)
As Forças Armadas hoje são mal pagas e sucateadas. Está na hora de
trazer essa discussão para o rol de prioridades do governo para ajudar a
restabelecer o princípio da disciplina;
Não sou um gênio, nem tão bom analista assim. Mas certas coisas são tão óbvias que impressionam como não são vistas antes. O governo se perde por tratar com o fígado aquilo que deveria ser cuidado pelo cérebro. Se questões como o soldo e o reaparelhamento das Forças Armadas tivessem entrado na pauta logo que o primeiro manifesto dos clubes militares foi tirado do ar, da mesma forma que a intervenção dos comandantes no processo, o discurso dos adversários do Palácio do Planalto cairia por terra. Também não prosperaria o princípio de crise institucional que alguns queriam ver desencadeada.
O governo precisa de bons analistas. Aqueles que param, pensam e separam a ação incisiva do discurso puxassaquista e concordino.
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