sexta-feira, 15 de julho de 2011

Creolina com sabão português

O Ministério dos Transportes é uma enorme tubulação de esgoto, daquelas que quanto mais se mexe, mais fede. Agora é o substituto de Luiz Antônio Pagot no comando do DNIT, José Henrique Sadok de Sá, a ser flagrado enriquecendo a firma de engenharia da mulher, que faturou nada menos que R$ 18 milhões em contratos justamente com o... DNIT. E tem ainda o caso de Frederico Augusto Dias, agente infiltrado por Valdemar Costa Neto na pasta para acompanhar os passos de tudo o que interessava aos caciques do PR. A desenvoltura de “Freddy”, como Frederico é conhecido, era tamanha que chegou a representar oficialmente o Ministério em algumas oportunidades.
Ou seja, na gestão do ex-presidente Lula e em parte no governo Dilma, o Partido da Rapinagem, ops!, República, simplesmente privatizou um Ministério em prol dos seus próprios interesses. E não adianta dizer que ninguém sabia disso. Adaptando o velho bordão de Jacinto de Thormes, magistral personagem de Maneco Müller – que dizia que “em sociedade tudo se sabe” –, “no ministério tudo se sabe”.
Representa dizer que o novo ministro, Paulo Sérgio Passos, tinha conhecimento da existência do aspone Freddy e das negociatas envolvendo a empresa da mulher de Sadok. Outro que provavelmente estava por dentro de tudo era o petista Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura do DNIT e responsável pelos aditamentos contratuais com as firmas que prestavam serviço à autarquia. E é com esses dois que a porca começa a torcer o rabo.
Quando a presidente Dilma escolheu Paulo Passos para o comando do Ministério, em substituição a Alfredo Nascimento, disse que aqui que se mais escândalos houvesse, eles subiriam rapidamente a rampa do Palácio do Planalto.  Fica difícil o novo ministro explicar que nada sabia sobre a atuação de Sadok e de Freddy. Primeiro, porque é integrante do PR e, segundo, porque foi secretário-executivo da pasta. Nesta função, para quem não conhece a engrenagem, está todo o controle da máquina ministerial.
Sobre Hideraldo, também fica complicado explicar que não tinha a menor idéia de que a Construtora Araújo assinara contratos com o DNIT. O petista está na autarquia desde 2003 e a empresa da mulher de Sadok desde 2006 é uma das prestadoras de serviço. Muitos desses acordos passaram pelas mãos de Hideraldo e têm sua assinatura. E como petista não percebia o que estava acontecendo sob suas barbas? Ou o Ministério também servia para que o PT enchesse a burra, como fazia o PR?
Não acredito que Dilma vá tirar Passos com menos de uma semana no cargo, mas tem que pedir a ele explicações bem detalhadas. Porque, agora, acontecerá o seguinte: as demissões e afastamentos não surtirão qualquer efeito. São simplesmente uma confissão tardia de culpa e a demonstração de que a pasta tinha sido privatizada. Tirar Sadok do cargo, como foi feito agora, e Hideraldo, como tudo indica que acontecerá, representa pouquíssimo. É necessário fazer uma faxina, derrubar todo o quadro do Ministério, que parece contaminado pelo menos até o terceiro escalão.
Dirão que não se pode parar a máquina. Pode parar, sim. Porque, quem sair, vai sair atirando. E aumentando o desgaste para o governo, que parece atarantado com o nível de contaminação de uma das suas principais pastas, aquela que está diretamente envolvida com o PAC e com megaprojetos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada.
O Ministério dos Transportes virou um saco de caranguejos: quando se puxa o primeiro, outros quatro vêm juntos. Agora que o fio foi levantado, o momento é de trazer tudo para fora e dar um banho de creolina com sabão português.

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