terça-feira, 12 de julho de 2011

Tristes trópicos

Ao assumir o Ministério dos Transportes, ontem à tarde, Paulo Sérgio Passos não disse nada de impressionante. Foi protocolar ao afirmar que pretende rever contratos e que, dependendo da faxina que pretende promover, vai demitir um monte de gente. A primeira parte eu até acredito, mas a segunda, não. Seria mexer num vespeiro, já que, pelo tanto de tempo que ficou à frente da pasta, o PR pode infiltrar todos os seus apadrinhados a fim de que mapeassem os caminhos do partido dentro do Ministério.
Mesmo porque, algumas promessas se extinguem no exato momento em que são feitas, já que não aparecerá viva alma para cobrar a execução delas depois. Portanto, ninguém saberá se Passos está falando ou não a verdade. E isso, definitivamente, é péssimo.
Um dos grandes problemas da vida pública é o descompromisso. O Brasil é um país que se acostumou a ver as pessoas assumirem, apenas da boca para fora, algumas das posições que adotam. Não se pode, porém, cometer a injustiça de dizer que isso é coisa recente: tornou-se lamentavelmente um traço da alma política nacional. Quem sabe até mesmo um traço do caráter nacional, o que é infinitamente pior.
Olhando essa má tendência, atribui-se a ela o fato de ser resultado da impunidade, por si só uma distorção social. Quem pode se escuda em leis elaboradas exatamente com esse sentido, o de proteger os malfeitos de quem pode fazer mal. Para piorar essa situação, há uma série de juristas que simplesmente compram o pacote fechado – são os chamados legalistas. Debatem, sim, a validade do dispositivo, porém não dão um único passo para que seja revisto ou, na melhor das hipóteses, derrubado.
Caso evidente pode ser o da Lei da Ficha Limpa. Chegou-se a um empate em 5 a 5 no Supremo Tribunal Federal, que ficou para ser desempatado pelo novo ministro. Luiz Fux sentou-se na cadeira e deu um banho de água fria na sociedade, que pensava, já na eleição passada, ter-se livrado de uma raça de gente que insiste em sobreviver politicamente. Insiste, aliás, porque sabe como fazê-lo.
Assim, um sopro de moralidade é massacrado pelo palavrório difícil dos ministros do Supremo, escudados na ciência imperfeita que são as leis e tratados. O que isso quer dizer: que a sociedade, mais uma vez, fica a reboque e boquiaberta com o chão que lhe tiram dos pés. Detalhe: tudo isso com todo o arcabouço jurídico montado para justificar tal decisão.
Enfim, o ministro pode prometer, mentir, fazer e falar o que quiser que está tudo bem, que nada será cobrado, tampouco será execrado por aquilo que não fez. Não se pretende que a sociedade volte à Idade Média, aos tempos da tortura na roda, dos festivais da morte em praça pública. Mas o descompromisso e o cinismo de palavras sem qualquer sentido já incomodam mais do que a medida do bom-senso.

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