segunda-feira, 11 de julho de 2011

Vanitas vanitatum

O governo Dilma insiste nessa bobagem de trem-bala só para poder dizer ao mundo que o Brasil está construindo uma infra-estrutura de transportes com vistas à Copa e à Olimpíada. Pretende empurrar a conta para o cidadão-contribuinte-eleitor ao bancar 80% do projeto, deixando para as empreiteiras 20% - e nem assim elas se interessaram. Isso por si só é estranho: como é que as grandes fazedoras de obras do País deram de ombros para um projeto dessa magnitude?
Fácil entender. Eles entrariam com R$ 6 bilhões, isso numa etapa inicial. O grande problema é que não pararia nessa cifra. Chegaria a mais que o dobro, uns R$ 14 bilhões. Sem contar o seguinte: o governo, como fazedor de obras, é porco; assim, partes do projeto ficariam emperradas, o que levaria a iniciativa privada a assumi-los para não perder o tanto que empurrou nesse saco sem fundo. De R$ 14 bilhões, para que as empreiteiras não ficassem no prejuízo de ter completado trecho de um projeto inacabado, essa conta subiria sabe-se lá para quanto.
E aí, amigos, quem é o doido que se arrisca a segurar um cálculo que sabe-se onde começa, mas não se sabe onde termina? E não adianta o ministro Guido Mantega, da Fazenda, jogar seu peso sobre os construtores, acusando-os de atuarem contra o Brasil. Esse patriotismo histriônico e extemporâneo não os comove. O que os empurra é entrar numa obra com um determinado orçamento e ir tocando o barco, com os aditamentos necessários. O governo já provou que é um sócio traiçoeiro. Melhor fazer a obra toda, obter o financiamento e depois explorá-la com contratos de concessão.
Aliás, quanto duraria o contrato de cencessão do trem-bala? Esse trambolho que pretende ligar o Rio a Campinas, para piorar ainda mais as condições de sua execução, ainda será vítima da visão curta e do provincianismo dos políticos. O governador Sérgio Cabral Filho batalha a inclusão de uma estação no meio do caminho e, como eles, vários pensam no mesmo. Ou seja, de bala esse trem não teria coisa alguma. Ou você imaginaria uma composição dessas saindo do Rio, parando em Itatiaia, depois em Queluz, em Lorena, em São José dos Campos, em São Paulo e depois em Campinas? Seria uma rematada estupidez e perderia a razão de ser do projeto: unir duas cidades, separadas por oito horas de carro, em apenas três.
Por muito menos, o Trem de Prata, que saía da Central do Brasil, morreu sem deixar viúvos. Sem contar que o lobby das empresas de ônibus que fazem a ligação Rio-São Paulo seria mais um empecilho ao projeto do trem-bala. Vale lembrar que uma delas, a Cometa, pertence à família de João Havelange, ex-presidente da Fifa. E que o bem localizado Ricardo Teixeira, seu ex-sogro, poderia jogar todo o peso da CBF para fazer o negócio sonhado por Dilma tornar-se um imenso mico.
Mas não termina aí a saga do trem-bala. E as empreiteiras que tomam conta das bem pavimentadas estradas do interior paulista, sem contar a Via Dutra, também ela já privatizada? Dirão que o trem de alta velocidade terá custos que limitarão seu uso a uma certa classe social. Bobagem: se não for relativamente barato, o projeto torna-se inviável. Para piorar, têm ainda as passagens aéreas, cujos custos são cada vez democráticos.
Ou seja, dei um rol de problemas e de adversários do trem-bala. Só quem o deseja é o governo federal, mais por vaidade do que por utilizade. 

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