quinta-feira, 7 de julho de 2011

A última fase do Purple na década de 70

Quando vejo alguma coisa relacionada ao Deep Purple, admito que não posso deixar passar batido. Como esse documentário sobre a última formação, na década de 70, com Tommy Bolin no lugar de Ritchie Blackmore. O filme “Deep Purple – Phoenix Rising” tenta mostrar, ao longo de duas horas, que aqueles meses finais do grupo não foram a bagunça completa que a lenda costumou atribuir. De fato, não foram, mas também não entraram para a história como a fase mais rica do Purple.
Antes, porém, um parêntese. Ouvi o “Come taste the band”, único registro de estúdio oficial do Mark Four (desconsidero aqui o “Days may come”, lançado pouco tempo atrás, com os ensaios para a entrada de Bolin) na mesma época em que ouvi o “Deep Purple In Rock”. São discos extremos, diferentes conceitualmente um do outro e com apenas dois músicos em comum, Jon Lord e Ian Paice. Mas, por alguma estranha razão, fiquei encantado com ambos. Eram pesados à sua maneira e, mais de 30 anos depois dessas audições, continuo pensando da mesma forma.
Quem viu o documentário “Deep Purple – Heavy Metal Pioneers”, assiste somente ao breve depoimento de Lord sobre Bolin. “A lovely lost soul”, classifica. E mais não fala. Diz apenas que depois do show de Liverpool estava de saco cheio. Disse isso para Paice e os três restantes, incluindo aí David Coverdale e Glenn Hughes, pareceram concordar. De fato, o Purple estava se arrastando, como, aliás, acontece agora, com discos medíocres.
Lord sentenciou que a banda tinha de sair na alta, não na baixa, como estava acontecendo. Bolin trouxe mais que a influência funky para o grupo: trouxe também sua heroína e a cocaína, muito apreciada por Hughes. Reza a lenda que Coverdale, Lord e Paice eram mais de beber, como, aliás, Lord esclarece logo no começo de “Heavy Metal Pioneers”. O problema é que todo viciado pensa que domina a droga, não o contrário. Quem já ouviu “Last concert in Japan”, percebe o mau estado de saúde de Bolin, praticamente não tocando coisa alguma. Foi publicado apenas no Japão porque o mercado japonês consome qualquer coisa. É um disco ruim e um documento excelente.
“Flying in a wings of a russian Foxbat”, CD duplo que veio à tona na década de 90, mostra um Bolin completamente diferente, tocando o fino. É um belo registro, que, embora oficial, somente os aficcionados pelo Purple conhecem. Durante muitos anos foi um pirata, que a Purple Records resolveu tirar da zona cinzenta. Mas já ali, Bolin vinha colocando números do seu álbum-solo, “Teaser”, nos sets da banda. Claro que os outros quatro não vinham gostando disso: quatro brilhantes veteranos músicos ingleses servindo de escada para um jovem e ambicioso guitarrista americano.
Só que, para a entrada de Bolin, a pré-condição foi justamente a de que ele também daria publicidade à sua carreira-solo. E só entrou porque Clem Clempson, que deixara o Humble Pie, não se adaptou ao estilo do grupo.
Se Bolin não estivesse no Purple, provavelmente “Teaser” não teria a receptividade que teve, tampouco obteria um contrato de gravação com a Epic, subsidiária da Columbia Records. Ao deixar a banda, Bolin lançou o derradeiro “Private eyes”, que definitivamente não é grande coisa. E que só teve algum impacto porque quase imediatamente morreria.
Já nessa época, o espírito era de debandada. Hughes pouco depois se uniria brevemente ao Trapeze e partiria para o álbum-solo “Play me out”. Coverdale já gestava seu “Northwinds” e tanto Lord como Paice estavam engatilhando a Paice, Ashton & Lord, também de vida curta. Estavam de saco cheio um do outro, processo desencadeado pelo desinteresse de Bolin, associado ao vício dele e de Hughes, que já começava a incomodar. Além disso, tais desvios de conduta trouxeram transtornos, como a morte de um roadie na fechada e muçulmana Indonésia.
A música era boa, o relacionamento nem tanto, o ambiente se degradava e antes acabar com um grupo com alguma honra do que esquecido pela mediocridade ou interrompido pela overdose. A decisão de Lord foi sábia.

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