terça-feira, 12 de julho de 2011

Na descida do altar

A presidente Dilma parece ter resolvido tomar o governo nas mãos, depois da série de absurdos que viu acontecer sob suas olheiras, no final de junho e começo de julho. No mesmo dia em que efetivou Paulo Sérgio Passos no comando do Ministério dos Transportes, mandou o BNDES sair da enrascada que era a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. A despeito de vários agentes do governo afirmarem que, a longo prazo, seria o cidadão-contribuinte-eleitor o grande beneficiado – um dos que garantiram esse disparate foi o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) -, a curto os efeitos se mostraram desastrosos.
Primeiramente porque ninguém entendeu porque o BNDESPar entrou nessa parada, já que em negócio entre duas entidades privadas, ele não tinha nada que meter a colher. Ou entrar com ela. As críticas choveram de todos os lados e o presidente do banco, Luciano Coutinho, deu explicações no mínimo pífias para justificar a presença no negócio. Não foi apenas a opinião quem estrilou: da base aliada do governo no Congresso vieram análises no mínimo desconfortáveis sobre a presença estatal numa transação particular.
Dilma pode não ser política, mas sabe fazer conta. E percebeu que Carrefour e Pão de Açúcar ficariam com o bônus e a União com o ônus. Agora mesmo, em Paris, o sócio de Abílio Diniz no GPA, o grupo francês Casino - concorrente do Carrefour na terra de Carla Bruni – disse um sonoro não à proposta do brasileiro. O empresário ficou sozinho na reunião de acionistas, mas diz que vai “continuar tentando” para o negócio ser fechado. Ora, se nem os sócios se entendem sobre a conveniência da junção, não vai ser o governo quer vai entrar de financiador em algo assim.
Alguns trechos do comunicado emitido depois da reunião, na sede do Casino, são devastadores e maculam a imagem de Abílio como um empresário de sucesso. "O projeto de operação financeira transmitido por Gama (a empresa criada para viabilizar a fusão) é contrária ao interesse do GPA e do conjunto dos acionistas" (...) “(a proposta é fruto de) uma visão errada da estratégia do GPA". E finaliza sentenciando que "uma participação minoritária no capital de Carrefour não corresponde a uma internacionalização adequada para o Pão de Açúcar, que deve ter o domínio de tal desenvolvimento".
A decisão do Casino somente endossa aquilo que a presidente já havia decidido em relação à participação do BNDESPar. Porém, esse caso não pode ser encerrado sem que se saiba exatamente por que o banco ia roer o osso e as duas redes de supermercado ficariam com o filé nessa negociação. Não é de hoje que o BNDES é acusado de empatar dinheiro bom em negócios ruins, de ceder a pressões políticas para ficar com a parte podre. E nesse caso específico, o mercado de varejo de supermercados ficaria extremamente desfavorável ao consumidor.
Claro, pois as duas megarredes controlariam quase 50% do setor. Entidades ligadas ao comércio de atacado foram unânimes em afirmar que o poder de barganha diminuiria e não apenas elas perderam. Na ponta final, na gôndola, o cidadão poderia perceber muito brevemente o tamanho do prejuízo que representou a fusão. Preços mais altos representam pressão inflacionária, cuja meta vem sendo recalculada sucessivamente. As projeções do mercado financeiro para 2011 saltaram de 6,15% para 6,31%; as de 2012, de 5,10% para 5,20%.
A leitura de todos esses fatores fizeram a presidente ordenar a saída do BNDESPar desse casamento de jacaré com tubarão.

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